15 de novembro de 2012

As coisas que nós somos


Eu sempre fui uma pessoa que gostou de ter coisas. Muitas coisas. Eu não me bastava com um perfume, eu tinha de ter todos os perfumes de que gostava no momento. Mesmo que os cheiros se misturassem e demorasse meses até que os pudesse usar a todos. Com a roupa era igual. As calças pretas não me chegavam. Tinha também de ter as azuis e as brancas e, já agora, por que não?, as castanhas. E assim era com mais uma imensidão de objectos, coisas e bens materiais que, na altura, julgava não poder viver sem eles.

Era como se as minhas coisas fossem o meu mundo (em certos casos, agora muito mais controlados e seleccionados, ainda são. Mas agora dou-lhes um valor especial). Eu adorava ter coisas. O ter, o possuir, davam-me uma sensação indescritível de segurança e de conforto. Como se eu fosse mais eu por as ter, percebem? Como se eu e essas coisas fôssemos indissociáveis, como se elas definissem a minha personalidade e tomassem conta de quem eu era. Eu achava que só era assim porque as tinha.

Olhando agora em retrospectiva, percebo que eu era realmente uma pessoa materialista. Hoje percebo que as coisas não são nada ou, pelo menos, não são tudo. Ultimamente, confesso que as coisas até me atrapalham e às vezes desespera-me não saber o que fazer com a quantidade de roupas, perfumes, cremes, bijutaria e acessórios que ainda tenho lá por casa.

Há coisa de um ano para cá tenho andado a tentar livrar-me do excesso. A pouco e pouco, de forma controlada e respeitando os meus “mini-projectos de decluttering” e as minhas infindáveis to-do lists, que são meticulosamente organizadas para o efeito.

Tenho tentado levar uma vida mais simples, centrada em mim e nos meus (que são, no fundo, as “coisas” mais importantes que podemos transportar connosco) e percebi realmente que não preciso de muita coisa para ser feliz. Demorei trinta anos a chegar a esta conclusão mas atingiu-me com a força de um murro no estômago. E o caminho que fiz até aqui fez-me perceber apenas isto: eu preciso de ter menos para poder ser mais. Simple as it is.



1 comentário:

Tsuri disse...

Brutal! Eu aprendi isso da pior forma, à força, mas aprendi e o sentimento de crescimento e evolução é indescritível.
Beijinho

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